"Está tudo às escuras mas os parlamentos continuam reunidos e os deputados não se enganam nos votos nem nos interesses os crente vão às igrejas e sabem que os deuses os reconhecem pelos relevos do mobiliário os serviços de urgência tratam os mortos por engano e os optometristas receitam óculos para ver no escuro os presos regressam às celas invisíveis depois do recreio o facebook funciona em versão oculta e ninguem nota a diferença, está tudo às escuras e a claridade nunca foi tão desnecessária".
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS é sociólogo e poeta. É diretor do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, além de Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e doutor honoris causa de várias universidades. Tem livros publicados, em diversas línguas, sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. Como poeta, publicou, entre outros, O rosto quotidiano, Escrita INKZ: antimanifesto para uma arte incapaz, Rap global e, pela Confraria do Vento, 139 epigramas para sentimentalizar pedras e Crônicas de Acabária.