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Para Cazuza


O câncer dá prestígio, dizia Darcy Ribeiro, O Edificante. O interlocutor do canceroso preocupa-se com o destino e a luta do seu interlocutor e preocupa-se com o seu destino de possível futuro sofredor de câncer. Preocupa-se além: dos possíveis casos de câncer na família e com os amigos chegados. Um potencial de desvio de preocupação e amor que puxa a energia do libido para possibilidades sem controle. Desgovernadas. O fumar dá câncer: é uma realidade. E o câncer virótico, como se pega, se pega realmente? Centenas de milhões de potenciais cancerosos e novas perspectivas de cura. Oxalá. Cirque de Solei, para esquecer tal dor. Balada na Matriz com Os Outros, participação especial da musa e Dj Web D’uerg, uma encantadora nobre napoleônica e seu marido marroquino Abdul el Castanhola: ambos saíram corridos da Costa Italiana, onde tinham uma pousada para ex-junkes, principalmente do norte da Itália, pois a desconfiança rondava a rondada do casal e seus hóspedes. Tinha um brasileiro que tinha a foto do padre Marcelo, enorme, e ficava cinco horas por dia rezando e ouvindo seu guru e os vizinhos sentiam cheiro de incenso forte e gritos de orgasmo místico. Estes são meus informantes por toda a toda a cidade do Seurio e principais cidadelas do planeta. X-tudo na Lapa e passeio na rua Ceará. Querem abrir uma pousada em Maresias ou Búzios. Baladeiros nômades. Apesar de trinta e poucos se amarram numa rave de três dias com barracas e trocas de casais. Swing é bem vindo. Naturaly. O Rio está sorrindo. Retornando ao prestígio do câncer, ao findar da vida do mestre com mais de se tenta ou se senta? anus, os que iam entrevistar o Darcy Ribeiro perguntavam pela vida pós morte, Deus, o homenageavam com o coração aberto, ele mesmo abriu mais seu coração, e ele afirmava cansado, mas prenhe de futuro: - Câncer dá um prestígio! - e sorria saudoso do que não daria mas tempo de fazer. Na década de 60, não se falava fulano tem câncer. Diziam: - Aquela doença... Fulana está tão magra: - É aquela doença... - Ai, meu Deus do céu, que tristeza, é verdade? Vou visitá-la -. Tinha uma frase antiga que ditava que mineiros só são solidários no câncer. Sei lá porque tinha a frase. Tem de perguntar para um mineiro velho como jabuticabeira. Diziam que o mineiro comia numa mesa com gaveta para se uma visita chegasse naquela casa aberta para a rua, das cidades antigas de Minas Gerais, que vale visitar, viva Diamantina, o almoçante colocava rapidamente o prato dentro da gaveta. É, mineiro só é solidário no câncer. Dá prestígio. A Azougue Editorial lançou um livro do Darcy Ribeiro, com várias entrevistas. Lançou também o Vinicius de Moraes e está lançando o Gilberto Gil, dentre outros ótimos. É a Coleção Encontros. É uma coleção para guardar. Cada livro custa 20 reais e as entrevistas, várias, além de divertidas faz a gente conhecer um pouco da personalidade do entrevistado. Tuberculose já deu certo ar de mistério. Desde personagens saídos da inteligência morena da família Dumas até Nélson Rodrigues: muito louco, vale pena ler a biografia do Ruy Castro, O anjo pornográfico, sobre o Nélson Rodrigues. Havia solidariedade muito grande com a tuberculose e o Romantismo - aquele mesmo, que você estudou obrigado para o vestibilhar e já esqueceu - ajudou com os poetas tísicos morrendo aos vinte e poços anos como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Garotada de vida boêmia e morte romântica. Aí, desenvolveram a penicilina para ampla aplicabilidade em 1945 e muito tuberculoso teve sua vida melhorada ou salva. Manuel, viva Manuel, Bandeira. Nélson e ele vivos para continuar a depurarem o ar da mediocridade. E os que foram, uma farra aceitável, um sentir alegre, alegre melancolia dos que se foram pela vida dos excessos deste tempo do passado: os anos loucos ou loucuras anteriores. Vinho, mulheres, emoção, sensibilidade e constituição franzina. Salve Noel Rosa! Tuberculosos. Que bom! É, tuberculose tem certo mistério de natureza romântica. Não para os milhares que até hoje morrem anônimos por falta de cuidados médicos e alimentação. E a Aids? - Camilo morreu de Aids. Lutou legal. Teve vida boêmia, será que ele era viado? Ou será que pegou numa transfusão?-... Se morrer de câncer dá prestígio para ajudar a luta, se tuberculose já deu mistério, qual será o sentimento que a morte por Aids provoca? Finalizo, sou Aidj e proponho um passeio a Paquetá, para paquerar de bicicleta, inspirado nas bicicletas de Jarbas Lopes, e, por sorte, uma lua cheia ou nova com muitas muitíssimas estrelas. Usando camisinha e, para os mais afoitos, não compartilhando canudinhos. By, dear, by,!.

 

E Renato Russo



G     u     i     l     h     e     r     m     e                                        Z     a     r     v     o     s

 

 


GUILHERME ZARVOS é escritor, boêmio e articulador cultural. Publicou Morrer (2002), Zombar (2004), entre outros. É co-fundador, junto com o poeta Chacal, do CEP 20.000, pólo cultural que, desde 1990, vem confluindo várias gerações de poetas e artistas do Rio de Janeiro.
 


 

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