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joão gilberto noll transportes
Estava eu com a xícara de café
na mão, olhando pelo vidro da confeitaria um rapaz com a farda do Exército
no ponto de ônibus, se afastando um pouco, sim, fugindo do esguicho de
lama que a moto estabanada produzia. Eu olhava para o soldado por não ter
mais nada que valesse a pena no meu raio de visão. Bem perto havia a
poeira sobre a mesa – onde o meu dedo de aliança me levava à
memória de um homem em cujo corpo eu só sabia como que escandir célula por
célula, para chegar ao fim, só ao fim em condições de pronunciá-lo inteiro
de uma vez só. Enquanto tal consumação tardava, eu ia sim me detendo nele
por partes, titubeando às vezes entre uma e outra, até sua figura me fugir
mais uma vez e eu passar a me inteirar de outro corpo, ali, justamente o
do jovem soldado entregue a si mesmo, sem me adivinhar. Em volta havia
mais o quê? A moça que me atendia à mesa, a mosca na toalha, a mulher que
saía de uma loja perto do ponto de ônibus com um pacote em uma das mãos, o
dourado da tarde reaparecendo depois da chuva, uma vontade de nada
reivindicar, embora cada coisa parecesse em retaguarda, sem querer se
expor, já de prazo vencido. Então me levantei. Atravessei a rua. E fui
para debaixo do abrigo na parada de ônibus. Sondando cheia de disfarces o
garoto em serviço militar. Até conseguir lhe perguntar se sabia que ônibus
eu deveria tomar para ir ao bairro da Constelação. Ele pensou, pensou, e
num repente disse: “Não sei”. “Não sabe não?”, falei. Não, ele não sabia.
E continuava a me olhar. Bem assim, bem mais do que eu podia agüentar sem
que me pusesse também a olhar para dentro de seus olhos esverdeados, por
onde eu poderia navegar e quem sabe até mergulhar e – numa onda –
soçobrar. De súbito, ele se dispersou do meu olhar e viu. Viu o ônibus se
aproximar, se aproximar para junto do meio-fio. Ele subiu. Fui atrás. Eu,
uma mulher desacostumada a qualquer transporte público, eu ali num ônibus
lotado com o rapaz em farda do Exército, espremida contra ele, sem mais
nenhum endereço para abrigar meus olhos fora dos seus – eu ali, frente
a frente com ele, sentindo seu corpo já todo esperto e pulsante e
aquecido, rente à umidade que eu adivinhava a brotar do meu. Quando vi,
estávamos tão um no outro que parecíamos nus. Ninguém ao redor, o ônibus
vazio no ponto final. O motorista saía dali comendo uma banana, com as
pernas das calças dobradas pela canela de tanto calor. O trocador já
estava fora, com uma toalha de rosto dobrada na nuca, a absorver o suor. O
rapaz fardado silenciou qualquer destino imediato. Silenciava tudo
simplesmente, mas sem causar maiores inquietudes à mulher que se preparava
em mim. E ele foi se adiantando, como se preferindo me guiar. E eu... onde
iria com ele? A umidade me escorria entre as pernas. Cheguei a me
perguntar se o que descia não era mesmo urina. Quem sabe até mênstruos
fora de estação? Eu estava sem dinheiro, documentos, sem nada além do
vestido. A bolsa com os ingredientes do dia-a-dia eu esquecera no café. O
rapaz agora pagava duas passagens ao trocador em gozo de um intervalo em fim-de-linha. Agradeci. Ele continuou andando na frente, lembrando aqueles
casais de retirantes em barro que eu tinha na galeria, e com tanta saída!
Os homens, sempre na frente. E eu seguia o rapaz com a farda do Exército,
eu me deixava levar. Ele agora entrava no mato, e eu não podia imaginar
que dali pudesse surgir uma casa e não um bicho silvestre como um lagarto,
tatu, tamanduá, sei lá. Faríamos o quê, nós dois expostos às feras? Por
entre as macegas já se insinuava o declínio da luz, e eu me sentia
conduzida por aquele rapaz que, mesmo com uma companhia, não precisava
falar. Eu o seguia pisando em folhas crocantes, crac, crac, crac... ou em
outros pontos meio alagados... e assim o seguia qual uma mulher das
estatuetas de barro, seguindo o seu homem que saberia muito bem desdobrar
o caminho de ambos, até aquele barraco logo ali na frente a alguns passos
da chegança, onde já balançava uma lâmpada tangida por um vento repentino
e sedoso, fresquinho. O rapaz assoviou. À janela veio a figura de uma
velha mulher. Ela exibia na face um torvelinho de sulcos.
Surpreendentemente, tinha os dois fios de lábios pintados com
determinação, parecendo transmitir a memória de um enlevo inconfessável,
diuturno até. O batom encarnado às vezes sumia entre as mandíbulas
banguelas. Mas, quando o rapaz chegou bem perto, ela sorriu e a cor
vivíssima voltou à tona e assim ficou, parada... O rapaz do Exército
também parou, eu logo atrás. A velha me olhou. E perguntou, “Quem é?”. O
rapaz fez que não ouvira a indagação. E entrou no barraco. A mulher
continuava na janela, me perquirindo calada, enquanto o rapaz a abraçava
por detrás. “É minha mãe”, ele falou antes de estalar um beijo nos cabelos
sumidos da velha. Eu não sabia o que fazer. Tinha vindo com ele até aquela
região da periferia e, agora, diante da casa deles, a velha hirta me dava
a sensação de que eu sobrava no ambiente. Eu deveria voltar, isso sim,
para a cidade, e, antes que anoitecesse, adentrar de novo pelo café, pegar
a minha bolsa, tomar mais um expresso, voltar à companhia do meu cão,
alisar seu pêlo ao infinito, deixar como sempre ele subir em minha cama e
fazer de mim a concubina imemorial. Pela manhã eu acordaria depressa para
a hora limpa como o quê, o cachorro viria atrás, até eu sair batendo a
porta e ouvindo seu gemido de dor. Agora eu estava ali olhando aquela
velha de batom, o filho a abraçando por trás, levantando da nuca os
míseros fios brancos da mãe, levantando para beijar o pescoço inteiro da
anciã. Agora eu estava ali, incrédula diante do que eu via, incrédula
sobretudo diante do que eu acabara de fazer: ter acompanhado um soldado
desconhecido até seu paradeiro no mato fundo daqui. Agora eu estava
naquele lugar em que se vislumbravam ágeis gambás entre as macegas,
verificando que o rapaz fardado tinha o cabelo escovinha, igual a antigos
recrutas de tempos dos quais eu saíra como se sobrevivente, a muito custo
até, sobrevivente para almejar a minha inclusão naquele instante ali,
frente à mulher e ao filho dela. Eu fazia então apenas isso, em posição
quase ereta, como se de prontidão à espera de abertura para me inserir de
vez no quadro e nele contracenar. Agora eu passava a mão na saia para
recuperar certa ordem inexeqüível, eu sabia desde já. Talvez, pensando
bem, eu esperasse uma desordem, ou quem sabe apenas um estampido de festim
galvanizando o latir dos cães da redondeza –, ira canina prestes a se
dar no lusco-fusco da hora; ira, sim, e tanta, a ponto de acertar no cerne
deles, deixando a mãe e o filho na janela aninhados para sempre um ao
outro, enquanto eu aqui, no papel de forasteira, ia pensando como voltaria
pra cidade se a noite descesse num repente como agora, justo agora, eu sem
poder entrar no barraco em que a anciã trataria o filho pela noite toda
como a um príncipe, lhe trazendo a sopa requentada, o vinho de garrafão, o
pão dormido, e toda a astúcia para que o moço de olhos esverdeados
voltasse ao tosco endereço ao fim do dia seguinte e para sempre amém. Eu
ficava ali em meio aos pensamentos, parada ouvindo bichos passando por
entre ramos rasteiros, avulsa entre elegíacos trinados no rito do
recolhimento ao fim de mais um dia. Meu corpo marcava sua presença em
ponto morto, estóico, ermo diante daqueles dois como se perdidos dessa
figura aqui defronte. Eu, uma desconhecida que ousou lhes surpreender e
que nesse instante se despede para voltar ao seu café diário na cidade. O
dinheiro está na bolsa esquecida no recinto, lá longe sim, não importa.
Pois essa mulher tomará um táxi e pagará a corrida quando chegar ao justo
cenário. Onde um psiquiatra fala de um jovem meio autista que começou a
rir depois de todos esses anos – ele se põe a rir de tudo e de nada por
sessões inteiras. O psiquiatra, aparentemente em folga perpétua de seu
consultório no mesmo prédio que o café, suspende paulatino a descrição do
caso, enquanto uma endocrinologista entra no recinto contando de uma
paciente anoréxica que se recusa a se converter ao peso mediano. O
ambiente traz ainda um escritor sentado sempre à mesma mesa. O escritor
decanta seu silêncio... no mais, ele só sabe olhar, e como olha! Por outro
lado, qualquer olhar em sua direção o esmaga. Então aprimora o ríctus de
mais uma recusa. Dizem que nesses instantes ele solta um ai! ocluso. A
mulher pega a bolsa em meio a esses testemunhos clínicos, em plena hora do
ângelus, e separa a nota que dará ao motorista que a pega e a põe no bolso
devagar, bem devagar, quase em leve transe... Ela toma de novo seu lugar à
mesa rente ao vidro que se expande para a rua em que o ponto de ônibus
abriga um novo rapaz fardado, com jeito de ter saído há pouco de suas
lidas no quartel. O certo é que essa mulher que estava no café não está
mais. Sim, ela pretendia se adiantar ao tempo – em vão... Pois ainda
está aqui, no mato, de frente pro barraco. De repente, a lâmpada do
casebre então se apaga. Com isso, os vultos da anciã e de seu filho se
destacam mais, a ponto de parecerem dois fantasmas. Eles ali ainda e ela
aqui. O vento já cessara. Os vultos responderam à calmaria coagulando-se.
Era noite, afinal... À beira de ser sufocada pelo escuro, ela foi
caminhando à procura sim de uma saída daquele mato cheio de sons
recônditos, lúgubres alguns. Parecia haver um secreto casamento, uma
coesão sincera entre os sons da ave do céu e do sapo dos charcos, por onde
ela ia pisando, manchando-se de lama, caindo, arrebentando uma tira do
calçado, se arranhando por entre galhos, perdendo a aliança inútil que
escorregara de seu dedo lívido para as sombras emboladas por toda a
extensão do ar. Ela fugia ao encontro de qualquer coisa menos misteriosa,
como uma conversa displicente com o psiquiatra seu colega de café, quem
sabe com a endocrinologista chegando sempre com casos arrepiantes, como o
daquela moça anoréxica desmaiando no cinema, sendo levada em socorro pelo
shopping – mas a nossa mulher agora é essa aqui, e ela corria com medo
do mato cerrado a esconder quem sabe que animais silvestres; e do bojo do
bosque ela saiu intacta, dando num lago enorme por onde vinha se
aproximando um barco com um homem a remar. Ela levava na mão o pé de
sapato com a tira arrebentada, estava suja por todo o corpo, enlameada
aqui, rasgada acolá. Parecia agora mais desperta, esperando pacificamente
um barqueiro... Sem saber se o homem a poderia conduzir até o outro lado,
ou para qualquer outra margem capaz de lhe devolver a cidade – e o
recinto do café, onde pegaria a sua bolsa e pagaria o barqueiro pela
travessia ao lar. Os remos batiam nas águas e aquilo estava a ponto de lhe
bastar, se por acaso o homem não quisesse transportá-la. O cara,
aparentando uma sacrificada meia-idade, então parou às margens; margens de
onde ela torcia calada pela viagem rumo à paciência inata das tardes no
café, em que alguém vinha sempre a falar, a escutar, a debandar, como se
todos tivessem a imperturbável certeza de que amanhã voltariam a se
encontrar exatamente ali, no mesmo café, com a tarde repetindo a anterior
e se espelhando na seguinte-ainda-em-formação-no-azul-do-céu-sob-os-suspiros-do-ar. O
barqueiro disse que sim, que a levava à outra margem. Pediu apenas um
instante se embrenhando pelo mato, vagaroso, passos estalando em folhas
secas, vagaroso... vagaroso... até que de súbito sumiu de todo e começou a
produzir o som de jato de urina a espumar e despertar a terra que já se
pensava de todo recolhida até a manhã raiar. Escutando aquele som do jorro
contra o solo recoberto de plantas, ela não agüentou mais e adentrou por
uma mínima senda por ali mesmo e tirou a calcinha e acocorou-se e ouviu.
Eram agora dois jorros com certeza tépidos a escorrer, e aquilo não
parecia ter fim... O barqueiro pelo jeito escutava também o xixi de sua
futura passageira, visto que agora o seu ameaçava estancar. Mas mesmo
assim ele forçava, forçava a uretra a se expelir com ímpeto de novo, para
acompanhar a manifestação das entranhas da mulher desconhecida, em vias de
se tornar sua última passageira do dia e tudo o mais o que ele
demonstrasse ser. Quando ouviu os passos do barqueiro sobre as folhas
secas, ela se trancou toda ali no púbis, não permitindo mais o escoar de
uma única gota. Levantou, puxou a calcinha às pressas e andou célere até o
ponto em que o homem antes a vira, nas bordas do lago, a esperar. Eles
estavam ali lado a lado agora, um tanto constrangidos por suas
necessidades momentosas, vividas a poucos passos um do outro. Fazia um
luar amanteigado. O barco ali na frente lhes vinha aos olhos numa nitidez
acurada, qual banhado por um foco artificial, capaz de se deter apenas no
sumo das linhas de navegação. Para que mais?, ela pensou ouvindo ao mesmo
tempo as palavras dele para entrar no barco. Ao sentar na embarcação, ela
lembrou que não tinha como lhe pagar pela travessia. Pensou que ao longo
do trajeto alguma idéia prática lhe ocorreria. E como ele era muito
silencioso, não dizia nada, ela se pôs simplesmente a olhar o decorrer do
translado, as águas do lago produzindo só um leve balançar. Balançar que,
de um golpe, pareceu em franca festa – pois não queiram saber o quanto
as batidas do meu coração intenso se multiplicaram ao raiar dos fogos de
artifício, isso mesmo, fogos sobretudo roxos e prateados, que vinham lá da
cidade a cobrir os nossos corpos e a superfície das águas, a me inspirar
para uma festa que a fisionomia do barqueiro não queria reconhecer,
retendo que estava atrás dos traços algum nó febril, um núcleo que já não
lhe pertencia talvez, nascido muito aquém do que ele poderia adivinhar.
Ele parecia ilhado em meio ao torvelinho de cores arrebentando ao luar.
Fiquei pensando se valeria a pena perguntar ao barqueiro sobre a razão do
espetáculo, enquanto ele ia, ali, no esforço compassado de remar. Aquilo
com certeza não lhe dizia respeito, nem ele por certo gostaria de
bisbilhotar os desígnios daquela celebração. Nada lhe competia além do
esforço ritmado. Eu ficava ali sentada no barco, com o sapato desprovido
de tira na mão, o pé desnudo em franca imundície. O seu par, com mais
sorte, menos sujo, parecia exibir sua qualidade quase louçã a seu parceiro
castigado. Eu ficava ali no balanço gentil do barco, banhada de fragorosos
fulgores do céu. O barqueiro, ao receber as luzes celestiais, mostrava-se
destituído de qualquer coisa além do ofício de levar as pás do remo pra lá
e pra cá. Ele parecia só dever explicações a uma entidade secreta, dona do
barco e de mim própria talvez. Ele era o guardião dessas transmissões
encobertas e eu nada deveria perguntar. O barco encostava na outra margem,
enfim. O céu voltara ao normal. Levantei meio esconsa, temendo cair. O
barqueiro ofereceu sua mão, eu a peguei e senti. Mão rude, calosa,
improvável para carícias lentas, de sondagens, essas carícias subitamente
inebriadas, que se ondulam com o afago vindo da outra pele, a
amante... Tirei o pé de calçado que me restava, e sentindo o solo meio
alagado pensei em como pagar o concluído serviço daquele homem.
Inclinei-me e tirei a calcinha. Deixei o tecido úmido numa das mãos do
barqueiro. Sim, fui eu que levei o objeto íntimo até sua mão levemente
suspensa no ar. Não sei, me senti gravemente avara de repente. Então abri
dois, três botões da blusa, tirei o sutiã. A outra mão dele, também meio
suspensa no ar, tinha jeito de espera distraída... ou de estar assim
apenas por estar, tá certo... Deixei o sutiã sobre ela, e ao pousá-lo
toquei na sua pele toda em sulcos, quente pelo serviço, colhendo o bizarro
pagamento pela lida, e transmitindo, pelo menos, como se um broto de carne
agraciada. Pensei na piada entre o elefante e a formiguinha, o elefante
conduzindo-a sobre o dorso pelo rio, até que ao desembarcar na outra
margem a formiguinha lhe agradece, e o elefante lhe responde “obrigado
não, vá tirando a calcinha”. Eu poderia, ao pensar nisso, sair correndo em
altas risadas ao encontro de um porto seguro onde eu jamais me
identificaria com uma piada tão pobre assim – mas não foi isso o que
fiz. Fiquei na frente do barqueiro por bons minutos, séria, esperando que
dele pudesse emanar o gesto que me enlaçaria. A gente podia ir até certo
ponto diante dele; a partir dali ele virava uma coisa sem expressar nada,
como uma pedra presa a uma outra e a mais outra ainda, meros relevos de
uma rocha toda inchada da mais bruta teimosia. Ele fazia parte de uma
pedreira maior, de alguma alçada a bem dizer refratária a tudo que
ultrapassasse aquela curtida carne muda. Então, decidi sair andando em
direção nenhuma, antes que alguma fera do mato cheirasse em mim a falta de
calcinha e de sutiã e me quisesse. No trajeto, pisei em espinhos e em cacos
de vidro, me esfolei em algumas pedras. Até que num repente me deparei com
uma avenida. Andei, andei sempre descalça, meio manca. Eu era uma
sobrevivente do fundo do mato, de onde eu saía para reconhecer mais uma
vez a cidade, essa de sempre por cujas ruas eu seguia agora meio tonta,
enlouquecida. Ao avistar a porta do café, corri. Claro, estava fechada
àquela hora da madrugada. Bati, bati inconsolada. A minha bolsa estava
presa lá dentro, contendo o meu dinheiro, o talão de cheque, chaves,
documentos, tudo... Como entraria no meu apartamento, ou, por outra, como
pegaria um táxi para me dirigir a um hotel assim sem nada? Um cara montado
em sua moto mais que estridente parou no meio-fio. Tirou o superlativo
capacete, todo dourado. Seus cabelos despontaram amassados, loiros.
Escorridos de um lado da testa. Dele exalava como que um hálito mais
quente que o da noite. O bafo parecia entrar, ali e agora, apenas para
confirmar a solidez da sua imagem. O motociclista desconhecido olhava o
meu corpo, assobiando. Eu, sem assobiar, olhei também. Calada, sim,
pulsando forte, diria que até em martirizado suspense... E fui andando em
direção ao loiro, calculando cada passo, os calçados nas mãos... Sem sair
da moto, ele virou o queixo mostrando-me imperioso a garupa atrás.
Levantei a saia para que ela não me confundisse, sentei. Ele arrancou.
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confraria do vento |