Aderaldo Cangaceiro, o de muitos nomes: Cego, Luiz Cangaceiro, Dedé, Adercego. Aderaldo Luciano – o de batismo. Paraibano radicado no Rio, o cabra é uma lenda nele mesmo: blogueiro erudito, colunista da Revista Confraria, professor universitário, cangaceiro incógnito da urbanidade e filho de cangaceiros temidos na região de Areia – ele reúne, em sua figura, o escritor de vanguarda e o cantador popular. Combinação do poeta que chega com um livro de estréia já cheio de histórias e trajetórias. O Auto de Zé Limeira, muito antes de encerrar-se neste livro, tornou-se um dos sucessos do grupo Cabruêra, musicado por Arthur Pessoa e ouvido no mundo inteiro. E é talvez um dos mais belos poemas populares urbanos compostos nestes últimos anos, lançado ao desafio de redesenhar para Zé Limeira, o cantador lendário das terras agrestes, um destino outro neste nosso centro regado a pó e aço. Fosse somente isso, já teríamos uma jóia, mas este livro inclui ainda os poemas O coração da madeira e As marteladas. Mais recentes na obra do autor, e, por sua vez, ainda mais radicais, abrem novos horizontes para a aparentemente estanque poesia vinda do Nordeste, sem cair no regionalismo redutor ou no exotismo marginal. As marteladas, sobretudo, desce sobre o crânio do leitor com força de épica antiépica talhada no dente e repente concretista, fundando uma cosmogonia própria para a poesia do seu tempo e lugar de errância. Aderaldo, antes de tudo, é um fabbro versado na arte de versejar, um Pound do Sertão, refazendo a rota barrenta dos trovadores da caatinga para reinventá-los, assumindo as personae de seus próprios mestres. Zé Limeira, o maior deles. Márcio-André