"Embora jovem e dando a público o seu segundo livro, Peron Rios se revela um estudioso improvável, inteiro e imprescindível neste A espiral crítica. A leitura pormenorizada do trabalho e sua observação à luz do contexto atual dos estudos literários demonstrarão que os adjetivos não carregam qualquer favor. Comporto por três partes, instituídas pelo gênero de que se ocupa a análise, o livro é permeado de uma erudição em grau tão elevado que só a paixão e a seriedade tornam possívels a alguém da idade do autor. E se sublinho com ênfase o prodígio, penso, claro, no que há de numeroso e variado no repertório de referências do crítico, mas o faço principalmente por sua capacidade de mobilizar leituras para embasar raciocínios e juízos, sem resvalar no eruditismo exibicionista. Em Peron Rios, o que critica está o tempo todo a teorizar, sendo o inverso também efetivo, num lance em que cuidado analítico e profundidade reflexiva são causa e consequência mútuas. A disposição para compreender e julgar concepções, obras e tendências dotam o crítico de inteireza intelectual, com que ele concebe e realiza a crítica literária como atividade interpretativa, valorativa e pedagógica, porque em seu fazer está o educar dialeticamente pela e para a complexidade da literatura e do real. Daí o flagrante por toda a extensão do livro o movimento de um estudioso aberto à variação dos textos contemplados e coeso nos juízos emitidos. Criticando prosa, poesia e a própria crítica - em instâncias acadêmicas ou na imprensa -, Peron Rios avalia com inalterável coerência e sensibilidade detalhista obras nacionais e estrangeiras, canônicas e contemporâneas, de consagrados e de iniciantes. Prenhe de prodígios que o levam longe, o crítico se posiciona com autonomia, deixando claras algumas de suas interlocuções e divergências (por vezes com interlocutores), o que faz sem recorrer a elogio protocolar ou grosseria pessoal, ambos inúteis para a crítica. No centro de seu interesse está a oposição às hipostasias confusas e contraditórias do contemporâneo, com o que o autor se confirma imprescindível para o adensamento do debate literário de nosso tempo. Uma espiral é linha curva, e da crítica se espera a dicção reta que explique a literatura. Nestre livro, a antítese não caracteriza qualquer incompatibilidade ou impasse. Se sua vasta pauta indica circularidade de quem não se restringe a assunto único, seus juízos se traduzem como posicionamento medido e firme. Daí Peron Rios se revelar um crítico literário improvável, inteiro e imprescindível nesse A espiral crítica."
Marcos Estevão Gomes Pasche (Professor de Literatura Brasileira da UFRRJ e crítico literário)
PERON RIOS é professor de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. Publicou, pela Editora da UFPE, a premiada tese A viagem infinita: um estudo sobre Terra Sonâmbula, de Mia Couto e proferiu palestras sobre as literaturas brasileira, moçambicana e francesa em várias universidades do Brasil e do exterior. É membro do Grupo de Estudos em Crítica Cultura e Artes (GECCA).