Anu situa-se no espaço de um épico (ainda que da dessematização). E, como épico, instaura já em seu primeiro verso ou bloco-ave uma evocação, na qual a palavra-ave anu vai se confundindo com a paisagem/cenário evocada, sendo desde já paisagem-palavrave e na qual o corpo transvítreo aquoso da ave se define e completa anu através da cena noturna que transpassa o interiordasgraiz:
riomarnoiteinteriordasgraiz
euanuavesoubichonasenda
poçudespelhásliságuacor
rentondvítriocorpoiodfauno
Anu desencadeia um livro cujas relações semântico-sonoras encontram eco mais recente no Galáxias, de Haroldo de Campos, e no poema Cidade, do irmão Augusto, mas também na poésie partition de Bernard Heidsieck e na gagueira rítmica de Ghérasim Luca. É portanto um fruto do concretismo, mas sem aderir ao seu manifesto. Um concretismo talvez mineiro — diria até mesmo drummondiano —, que vai comendo pelas beiradas, sem ir com sede ao centro, mas cuja importância não pode ser ignorada como uma nova dimensão da poesia que emerge no cenário literário brasileiro.
Márcio-André
WILMAR SILVA Nascido em Rio Paranaíba, no Triângulo Mineiro, mas há tempos vivendo em BH, o escritor tem 17 títulos publicados. Poeta, editor e performer com presença marcante nos eventos culturais de Belo Horizonte.