Andando pelas ruas ou mirando um espelho, nossa vista distraída só vê as superfícies em que incide a luz, apenas parte do que existe, pulsa e determina a vida. A realidade, porém, é cheia de dobras e nas sombras contém segredos, alguns libertadores. Nivaldo Tenório, aqui, entreabre as dobras das cortinas, sem julgamentos nem excessos, revelando apenas parte do que escondem, suficiente para deixar-nos pensativos e mais atentos ao que está oculto à primeira vista. Não tem dó, não poupa nem subestima o leitor, dá as pistas e pede-lhe coragem para desvendar as sombras.
Maria Valéria Rezende
Nestes contos de Nivaldo Tenório, o leitor ingressa na vida paralela, ou noturna – não raro “maldita” –, de personagens de grande lastro humano. As suas vidas se comunicam por meio de ecos delicados e significativos. As alusões bíblicas, os esforços de uma fé desencontrada, a perda da inocência, as saudades de um passado inclemente, bem como a proximidade da morte assolam esses indivíduos e os levam a
um ponto de crise e êxtase. Em alguns casos, um animal – uma coruja, um cão, uma tartaruga, ou a simples presença de traças num livro – é capaz de desatar uma epifania em que a transformação do sujeito ganha densidade pastoral.
José Luiz Passos
NIVALDO TENÓRIO nasceu em Garanhuns, Pernambuco, em 1970. É autor de Dias de febre na cabeça e um dos editores do fanzine de literatura u-Carbureto.