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márcio-andré
cosmogonia das palavras
artérias
na
pétala
d uma
azaléia
de cloro
que
turchesa
não-efeito-óptico
a beterraba estala de beterraba
o gerânio lasca de pintarroxo
feixe
OX
[´okisss]
CRAFTWORK
começa mantra e se cruza antes do trem
fecundante a sacrovaca
010
o ídolo Zebu de bronze os chifres contracurvos
seu olho lacustre
concha
concavar grandezas de chumbo
na entrada do templo
leopardos acuosos
cumprimentam a lambidas de louça
rei o Rei Dom Sebastião
boi centrípeto
o = negro
de permitir estrelas = x
ao cáucaso tapete de Aldebaran
untado a sacrifícios
estiletes
esféreo gráficos
oxiúro cavoucante
cavoucadores de vagina
auroque
a-
NOX
NOX
o
lapso do aço
é
o carbono do aço
e
do O se fez todas as letras violáceas
do X nasceram as de pedra
as palavras então —
odimir se
centopéias de arame
estalagmites crisálidas catedrais
vitrais d água
exoarmaduras crustáceas
de turmalina
lapidadas à goteira
harpsichord
a thrino engenhos
in fectum
o caso do verbo declina o acaso
:fallidas
dimensões provisórias
medusas de laca
e
Ônix
a cheda causa findo declive
distende a moleiro
afastar-se da mó
que é pó
e só
a janela máchina de ver
intercessão
obliqua
a Lao Tsé [montado]
[os limites da cidade nos limites] do nosso corpo
de guardar parcelas de nós
os lugares estrangeiros em si mesmos
inclodir
a perímetro
a boca radioativa
cinzel de cavar mnemônias
mas] o padrão das ruas repete sentenças de via-láctea

código nucléico que nos escreve
*
NOTA - Esta pechena cosmogonia das
palavras parte do preceito de que OX seja a mais singular e perfeita de
todas as palavras. Observando-a por alguns instantes, é possível notar o
exímio primor de sua composição gráfica e sonora. Suas únicas duas letras,
simetricamente especulares, tanto vertical cuanto horizontalmente, o que
as torna palíndromos de si mesmas, são uma síntese fundamental das tensões
opostas que regem a dinâmica das coisas.
OX é a palavra de todas as palavras
OX é unidade que se encontra em toda oposição
“O” é o vazio, o nada, logo, a totalidade, o ciclo que nunca começa e
nunca termina de tanto nunca abrir. É Ourobóros, a cobra mordendo a
própria cauda. é a ausência total e absoluta, logo a possibilidade máxima
de germinação.
“X” representa, ao mesmo tempo, muitos e nenhum som. É a cruz, a
encruzilhada, a incógnita, a hibridez, a oposição, a multiplicação, o
variável independente, o 10 (1+0). A presença em oposição ao “O” ausência.
Além do “ox” inglês, boi, animal sagrado, o prefixo “ox-”, do grego, oksús,
indica a presença química do oxigênio, substância vital, que possibilita a
respiração fundamental (Chi). Coincidentemente seu número atômico é 8, a
curva de moebius, o infinito. Na língua Ioruba ox- é redução de “orixá”,
palavra que designa os deuses.
MÁRCIO-ANDRÉ é
poeta, contista e músico, autor dos livros Movimento Perpétuo e Chialteras
e membro do grupo Arranjos Para Assobio, de poéticas experimentais (http://arranjos.confrariadovento.com).
Trabalha na tradução de poesia de Arnold Flemming, Serge Pey,
Ghérasim Luca e Bernard Heidsieck e edita as revistas literárias Confraria e Improvável (www.improvavel.com).
Recentemente foi filmado recebendo propina e repassando notas frias em
nome da editora. Quando interrogado
disse estar possuído pelo espírito de Arnold Flemming. Nós sabemos que ele
é inocente. Suas páginas são www.marcioandre.com
e
http://marcioandre.confrariadovento.com
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