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aldo dinucci kairós
De acordo com a mitologia grega, o deus
Kairós é irmão de Kronos. Enquanto este representa o tempo quantitativo,
linear, que pode ser medido, aquele representa o tempo qualitativo,
circular e não mensurável. O léxico grego Liddell-Scott registra os
seguintes sentidos para o termo kairós: justa medida, proporção, parte
vital do corpo, tempo exato, momento crítico, estação, oportunidade.
Strato (viveu sob Adriano), XII, 197
“Aprende a conhecer o kairós”, disse um dos sete sábios, ó Filipe,
ΣΤΡΑΤΩΝΟΣ, 12.197
“Καιρὸν γνῶθι” σοφῶν τῶν ἑπτά τις εἶπε, Φίλιππε·πάντα γὰρ ἀκμάζοντ' ἐστὶν ἐραστότερα·καὶ σίκυος πρῶτός που ἐπ' ἀνδήροισιν ὁραθεὶςτίμιος, εἶτα συῶν βρῶμα πεπαινόμενος.
Uma
rosa floresce por pouco tempo. Mas, se este tempo se foi,
ΑΔΗΛΟΝ, 1.53.1 Τὸ ῥόδον ἀκμάζει βαιὸν χρόνον· ἢν δὲ παρέλθῃ, ζητῶν εὑρήσεις οὐ ῥόδον, ἀλλὰ βάτον.
O próximo epigrama é de Paladas de Alexandria, e se refere a uma característica fundamental da captação do kairós: para se colher o momento oportuno é preciso flexibilidade, atenção e presteza. Assim, pode-se colher a ocasião “por acaso”, isto é, ao se perceber a existência de uma porta que se abre no tempo, oferecendo uma oportunidade inusitada que não fora conscientemente buscada, e atravessá-la, aproveitando a ocasião. Por outro lado, aquele que “busca com muito cuidado” muitas vezes nada encontra, pois seu exercício racional e metódico, que o faz concentrar-se num ponto apenas do real, impede-o de ter uma noção ampla e aberta do mundo que o envolve, o que faz com que se percam as oportunidades ou as novas alternativas que aqui e ali se apresentam:
Muito bem dito: falaste que Kairós é uma divindade, Menandro.
ΠΑΛΛΑΔΑ, 10.52.1 Εὖγε λέγων τὸν Καιρὸν ἔφης θεόν, εὖγε, Μένανδρε, ὡς ἀνὴρ Μουσῶν καὶ Χαρίτων τρόφιμος· πολλάκι γὰρ τοῦ σφόδρα μεριμνηθέντος ἄμεινον προσπεσὸν εὐκαίρως εὗρέ τι ταὐτόματον.
O próximo epigrama é o mais famoso e
importante no que se refere à representação e à caracterização do Kairós
na poesia clássica. É uma descrição detalhada da estátua de Kairós feita
pelo grande escultor grego Lisipo. Este, natural de Sicion, era
contemporâneo de Alexandre Magno e um dos maiores artistas da Grécia
clássica. Sendo um autodidata, aprendeu por si só a arte da escultura
estudando as obras de Policlito, e teria criado cerca de mil e quinhentas
estátuas em bronze. Lisipo teria feito uma escultura de Kairós tão
perfeita que se recusou a vendê-la, dispondo-a no vestíbulo de sua própria
casa.
Poseidipos (séc. 3 a.C.), XVI, 275 – Quem e de onde é o escultor? – De Sícion. – Qual é o nome dele? – Lisipo. – E quem és tu? – Kairós, o que a tudo submete. – Por que andas nas pontas dos pés? – Estou sempre correndo. – Por que possuis asas duplas nos pés? – Vôo ao abrigo do vento. – Por que levas na mão direita uma navalha? – Mostro aos homens que sou mais agudo que qualquer objeto cortante. – Por que mechas <de cabelo> caem sobre os teus olhos? – Por Zeus, <Só> sou agarrado quando estou passando. – Por que és calvo atrás? – Pois, uma vez tendo passado com os pés voadores, ninguém, ainda que queira, me agarrará por trás. – Por qual razão o artesão te modelou? – Por vós, ó estranho: e colocou-me no vestíbulo como um ensinamento.
Τίς, πόθεν ὁ πλάστης; – ”Σικυώνιος.” – Οὔνομα δὴ τίς; – “Λύσιππος.” – Σὺ δὲ τίς; – ”Καιρὸς ὁ πανδαμάτωρ.” – Τίπτε δ' ἐπ' ἄκρα βέβηκας; – ”Ἀεὶ τροχάω.” – Τί δὲ ταρσοὺς ποσσὶν ἔχεις διφυεῖς; – ”Ἵπταμ' ὑπηνέμιος.” – Χειρὶ δὲ δεξιτερῇ τί φέρεις ξυρόν; – ”Ἀνδράσι δεῖγμα, ὡς ἀκμῆς πάσης ὀξύτερος τελέθω.” – Ἡ δὲ κόμη τί κατ' ὄψιν; – ”Ὑπαντιάσαντι λαβέσθαι, νὴ Δία.” – Τἀξόπιθεν πρὸς τί φαλακρὰ πέλει; – “Τὸν γὰρ ἅπαξ πτηνοῖσι παραθρέξαντά με ποσσὶν οὔτις ἔθ' ἱμείρων δράξεται ἐξόπιθεν.” – Τοὔνεχ' ὁ τεχνίτης σε διέπλασεν; – ”Εἵνεκεν ὑμέων, ξεῖνε, καὶ ἐν προθύροις θῆκε διδασκαλίην.”
ALDO DINUCCI é doutor em filosofia clássica pela PUC-RJ e professor adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe.
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