revista

 

expediente

outros

números

envio

de material

editora

cartas

dos leitores

links

contato

 

 

 

 

 

 

 

chacal


os caralhos os poetas

 

 

 


os caralhos os poetas


Após muitos anos de investigação científica, enfim, cheguei a uma conclusão:


Os poetas quando morrem, não tem jeito, morrem. Mas seus caralhos, helàs!, viram tartaruga.


Talvez Deus, compungido pelos serviços prestados pelas estrovengas desses nefelibatas, tenha dado a eles esse prêmio de consolação.
 

Mas antes avisou:
 

Sim, não adianta vir com odes ou ditirambos. Não os relevarei do inexorável. Mas esse pedaço do corpo que lhes atormenta docemente a vida, esses ficarão. Como passaralhos, como passarinhos. Só que para não causar mais danos, em forma de tartaruga.
 

E assim foi feito.
 

Sou um assíduo freqüentador do Jardim Botânico. Por lá me exercito há mais de vinte anos. E já pude detectar algumas conversas entre os caralhos do Tom e o do Vinicíus:
 

Aí poetinha, quem você comeu que eu não comi?
Tonzinho, enquanto burilavas no piano a Garota de Ipanema, eu a dedilhava na cama.
Ora poetinha, mas quem estava lá a caminho do mar para solfejar seu lombo bom?
E a Nara? a Danuza? A Marisa Gata Mansa e a Maysa? Comeste?
Ora Vininha, quaremos ao sol. Essa conversa me deixa umedecido.
Sim, sim, ao sol, ao sol.
 

E lá ficam aqueles caralhos quarando ao sol, esticados, retesados. Quem apurar os ouvidos vai escutar uns gemidos. Sim, eles gozam, discretamente, ao sol.
 

E lá no fundo de seus cascos, na triste noite dos tempos, os dois quelônios poetas sonham com a Adalgisa Colombo.
 



*
 


cecília luíza


pétala da mais fina flor,
bordada com a sinuosa linha do desassossego,
quem ficará impune aos seus sussurros
quando o primeiro raio de sol derreter a madrugada? Cecília, o canto do colibri floriu,
quem apagará a estrela vesper?
nosso sono ancestral? a sirene da polícia?
o último carro do corpo de bombeiro? não importa. chegarão tarde demais.



 

CHACAL foi um dos principais nomes do movimento Poesia Marginal ou Geração Mimeógrafo nos anos 70, juntamente com Charles e Cacaso. Seu primeiro livro, Muito Prazer, foi publicado em 1971 (edição mimeografada). Em 1972, fez parte da revista Navilouca, com Wally Salomão e Torquato Neto. Entre 1975 e 1979 participou do grupo Nuvem Cigana, com Charles Peixoto, Ronaldo Santos, Guilherme Mandaro, Bernardo Vilhena e muitos outros. É co-autor da peça Aquela coisa toda, do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone (1980). Trabalhou para o Jornal do Brasil, Correio Brasiliense e Folha de São Paulo, além de escrever roteiros para televisão. Em 1990 fundou com Guilherme Zarvos e apoio da Rioarte o projeto CEP 20.000 - Centro de Experimentação Poética, que abriu espaço para o surgimento de inúmeros novos artistas. Em 2007 foi lançado Belvedere, sua obra reunida.

 


 

voltar ao índice | imprimir

 

 

confraria do vento

 

 

counter fake hit page