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stephen rodefer
devaneios de Frascati
STEPHEN RODEFER, poeta, tradutor e artista plástico,
nasceu em Bellaire, Ohio, em 1940.
Conviveu com os primeiros poetas beat, como Allen
Ginsberg, Jack Kerouac e Gregory Corso e foi um dos fundadores da Language Poetry,
um dos movimentos mais renovadores da poesia moderna norte-americana.
Publicou, entre inúmeros livros de poesia, traduções, peças de teatro,
ensaios e prosa, The Knife, One or Two Love
Poems from the White World, Villon by Jean Calais,
The Bell Clerk's Tears Kept Flowing,
Four Lectures (que ganhou o American Poetry Center’s Annual Book
Award) e Erasers. “The Age in its Cage”, um ensaio sobre a
formação do cânone, apareceu em um número recente da Chicago Review,
revista que irá dedicar ao autor um número especial em 2008. Além de Villon, Rodefer publicou traduções de Safo, selecionados da antologia
grega e também Catulo, Lucrécio, Dante, Baudelaire, Rilke, Frank O’Hara
e Noel Nicola. Esta é a primeira vez que Rodefer é traduzido para o
português. O texto escolhido está presente no livro Mon Canard e foi
traduzido por Márcio-André e Karinna Gulias. Atualmente
Stephen vive em um estúdio diante do cemitério Pair Lachaise, em Paris, e
pode ser encontrado, diariamente, durante as tardes, no Café La Fée Verte, na Rue de la Roquette, segundo ele, seu escritório.
À medida que nosso romance itálico atravessa
o bar outra vez, encontramos nosso pequeno esquema proibido por decreto
Papal em um cenário de elegia e ilusão. Um microfone sob cada planta era
uma ordem cardinal. Obsessões nunca são livres até que elas o subjuguem.
Quem sabe uma saleta de decoração bizarra ali ao lado para o Marquês, onde
a castidade pode ser violada caso queiram. Nenhuma pêra nos Apeninos. Onde
o muro apiano concentra suas orgias regadas a refrigerante Fresca, nós nos
recompomos sob céus similares. Dessa forma...
Veja — a escada do horizonte no dorso de uma árvore em decúbito. Não é o
caminho mais direto para os Portões de Pérola, mas ajuda a irritar a
ratazana da igreja e a estender os lençóis para nossa penúltima libação
nestas ladeiras lapidadas.
Homem Fonema Plástico mergulha no chão para limpar-se de sua identidade
como um cometa, confiando em suas saliências para substituir o marido
impetuoso. Corno imperfeito. Entrem para o pátio, clérigos empoeirados, a
densa negra noite sopra como um morcego.
Sua senda celeste precisou tão pontualmente meu giroscópio, tão certo
quanto o arco do cupido com seu leve relance dentro do edifício.
O bacana censurou a escultura pública proposta pelo comitê de arte para o
quintal dos fundos. É preferível um idiota ou algum tamanduá mecânico a
uma teoria de assimetria ou o consolo de estar em forma. O prêmio é uma
caixa de Macanudo Greens.
Os choupos dissecam o chaparral etrusco, como azeitonas de bar enchem as
varandas de maritacas. Em tal paisagem, quem pode escapar ao genocídio
caseiro. A vila em Ávila seria mais adocicável que o banquete dos Borgias
com idéias.
Apenas pinte o lixo Heráclito persuadindo os deuses a cair sobre nós, e
chame a isso destino. Vire um espelho ao não-natural e deixe-o lá,
disfarçado de reboco ou talvez terra fresca. Onde andamos quando andamos
você sabe onde.
Ó, os ratinhos, fuçando o vale por um oportuno fremir e um cigarro. É
claro, o próprio Murillo iria apenas deitar as costas em sua glória de
ousadias, como uma broxa com fungos — tudo veneno, tudo delicioso, tudo
rósea caulim.
Estou aqui para ser seu Ájax portátil, encerando até surgir o convite para
uma abertura na cerca viva. Nossos princípios Leninistas ruíram, para se
tornarem fabulosos e rurais novamente. Nós somos os últimos ativistas
metafísicos em meio ao niilismo americano. Nós exigimos um papa do Bronx.
Ó academia, ó Gainesville, ó purgatório dos títulos permanentes — quão
rente é o culto da diferença à indiferença cultivada pelas celebridades.
Você pode abrir meu observatório novamente como um bueiro, antes que algum
lunático de terno surja de lá calçando galochas. O moinho dos arbustos
está se movendo e minha imobilidade é gravada como uma nuvem.
Onde você quer a colméia em sua palmeira? Posso traçar o quadril, naquele
matagal, de uma atriz desajustada saída de um baile? Dê-me sua folhagem,
sua bainha, seu jeans mal lavado. E retirem seus comentários luminosos de
meu cabelo, monge, agora eu devo ser peculiar. Essas rodas nas quais
estou, estes shows de segunda. Leia cartas celestes.
Mira! Janelas, envelopes, insinuações. Como os animais vagueiam,
fixos no perímetro. Um específico sítio-específico, como um jardim de
encontros acadêmicos para altas-discussões ao pé de uma fonte, que
responde suas perguntas ao reciclar a água. Eu posso ver a Abóbada abaixo
— nada mais que um telhado sobre uma cabeça. Deve ser a fumaça de um
papado espiralando sobre sua própria respiração.
Deixe-me agora fazer mímica de algum desses inimitáveis, com a qual se
pode apontar a totalidade de suas intenções, vagem lúbrica. A qual eu
poderia comer, não fosse eu absorvido por uma teoria de lama e aridez, ao
me deparar com a histórica praia em um tumulto em Ocean View.
Venha para esse precipício um instante e salpique o filme com fachos de
luz. Logo ali na encosta pode estar o Capitólio ou o Levante ao qual os
foliões podem ser transportados de balsa queiram ou não como preferir.
Haverá flautistas entre os remadores. E do outro lado, eu tenho um casal
de amigos com furgões.
Não é impressionante que o céu sobre as pedras coloridas não possa riscar
a superfície do horizonte? Algo sobre o brim nos fragiliza por estar ali,
quase nos fazendo desejar ser franceses. Quebra a lente que nos preserva,
e cria algum meio de nos provar tão humanos quanto artífices.
O canal que nos conduz ao vale conduz também a alguma engenhoca de
pérgula, sobre o abismo, rangendo afinada. Sibilando pra nós a partir do
sibilino. Para quê? Desgastada e comprada em uma pechincha de nove por
três. E agora, coroada de uvas para Esculápio.
Cristo, por favor, sem gulodices. Uma fome por alternância explode de seu
martelo e aquela foice. Ronque, leviatã, do fundo de seu abismo através
das fronteiras. Lance uma bola de boliche no Diorama, o último que resta
em toda Indiana, apenas para entreter amigos clarividentes. Deixe-os matar
para a dissecação, nós cutucamos para responder, provocamos para entreter.
Ó bom Deus, outro cenotáfio. Ou você prefere uma cripta? Bom lugar para um
contato ereto. Deixe-nos fazer uma vez mais esse sóbrio pedido aos
espíritos de alguma lenda do Graal Gayle entenderia. As árvores ciprestes
ficam de pé em seu coral místico para virem abaixo, ao se esticar rumo ao
panteão celeste.
Mistério fabuloso. A poucos anos para o fim da milênio e suas imagens
cansadas. Movendo-se pela idéia do interior como o exterior, a lata se
abre em um sonho de sustos sucessivos. Não muito longe de Civitavecchia,
eu imagino onde a encosta interrompe sordidamente o azul-esponjoso. Mas
essa foi Roma. Um lugar para amores ondinos, esperando o beijo suspenso.
KARINNA GULIAS (tradução)
é formada em Letras pela UFRJ. É produtora gráfica, professora,
tradutora e poetisa. Faz parte do projeto Arranjos para Assobio, de
texturas poéticas e realidades experimentais (http://arranjos.confrariadovento.com).
MÁRCIO-ANDRÉ
(tradução) é poeta, ensaísta e editor, autor dos livros Movimento
Perpétuo e Intradoxos. É tradutor da poesia de Serge Pey, Ghérasim Luca e
Mathieu Bénézet. Sua página é
www.marcioandre.com
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