Borges é o ícone da narrativa latino-americana. Há quem discorde, todavia
deverá argumentar insistentemente e munido de cabedal mais que vasto. Não
queremos a discussão vazia, nem o vazio da discussão. Queremos discutir,
como o faz Kiefer, neste número: entrar pelo entre-meio, pelo entre-lugar,
pelo entre-mentes, pelo ente bibliotecário, sobre os ombros a Biblioteca
de Babel. Saímos da recente comemoração de dois anos e desejamos entrar,
dessa forma, pela constelação dos séculos que vêm.
Não por acaso, Ruy Câmara, narra-nos um fato vívido e vivido ao lado do
sempre-vivo, entre sempre-vivas, Gerardo Mourão. Não, não é demais falar
do Gerardo, nunca. Como o anel do Fantasma, estamos marcados por sua
letra. Poderíamos, ao invés de citar o Fantasma, citar o Super-Homem, aí
entraríamos em uma zona intersectiva com Nietzsche. Rod Britto o faz,
porém, como se abrindo uma janela para acima do destino de um povo e de
seus líderes e suprindo as lacunas divinas ao gritar que o povo é El
Shadday (aquele que se basta!)
“Meu coração não agüenta mais maquiagens” afirma o narrador de Marcelino
Freire. É nosso porta-voz, nosso porta-aviões, nosso porta-retratos. Nas
encruzilhadas desse imenso país imaginário, país literário, deveriam os
cinco mil auto-falantes reproduzir em eco, uníssono e retotono, a fala
desse ator. Não somente isso. Erwartung: “A esperança é o desespero de
quem espera...”. Parece ser esse o nosso caso mais denso: a esperança
latino-americana, essa que seria a última a morrer.
Nuno Rocha, nos ofertando uma tradução de Artaud, e Artaud se ofertando em
tradução para o Nuno, os dois olhando o nosso tempo-estábulo,
questionam-se se seriam homens ou animais. Respondam-lhes, observando o
tempo-híbrido, o nada-sóbrio, o tempo-ébrio, esse pelo qual somos
possuídos. Ofertem suas respostas, suas apostas. Se não conseguirem, ou se
não atingirem esse último degrau, observem as imagens de Fernando
Figueiredo, o nosso ilustrador. Observem e observem.
Se ainda assim ficarmos atônitos busquemos saída no par aproximativo
História-esposa e Literatura-amante pensado pelo renitente Luciano Vieira
Francisco. Claro está a nossa retomada alinhada com a excelência. É nossa
busca. Seguimos estritamente a orientação de Borges: buscamos pelo prazer
de buscar, não pelo prazer de encontrar. Agora, senhores, temos uma
certeza, a mais certa, na América, essa latina, estamos todos amarrados
por um sonoro, luxuoso e valente Bombo de Corda. Vamos
ver-ler-ouvir-discutir!
Os editores